29 março 2007

Vias cruzadas




Amor: Nunca sabemos muito bem quando nasce. Saberemos quando morre?...


Dependência: Será que amar é assim tão diferente de depender? Qual é a linha que separa as duas coisas?


Medicina: Quando nos sentimos completos e plenos com o resto da nossa vida, será que o amor passa para 2.º plano?


Traição: (do Lat. traditione, entrega s. f., acção ou efeito de trair; intriga; deslealdade) Será mais do que isso?


Destino: Devemos confiar que ele nos vai juntar àquela pessoa, no matter what?

28 março 2007

glad...


... that rest days are ahead. I could use a month.
In the meantime, the best ost to survive...





Nouvelle Vague – Ever fallen in love (with someone you shoudn’t fall in love with LOL)
· Nouvelle Vague – Dance with me (Won’t you /Dance with me/In my world/Of fantasy)
· Nouvelle Vague – Don’t Go
· The Magic Numbers – Love’s a Game (Pop, pop, pop, top)
· Kings of Leon – On call (no best of das músicas deste ano, sem dúvida)
· J. P. Simões – Inquietação (a letra que podia ter sido eu a escrever,…)
· Air – All I need (goes well with the spring)
· Amelia OST
· dEUS – Disappointed in the sun (M&P, velhas amigas e sempre um novo café à espera)
· Primal Scream – Damaged (cause i feel like being 18 again)
· Rodrigo Leão – Pásion
· Ivy – Edge of the ocean (Before the sunset ost)
· Julie Delpy – A waltz for the night (idem)

27 março 2007

Balanço do mês:

Palavras preferidas e mais proferidas: apardalada, mancar-se;

Livro: As pequenas memórias, Saramago (eu sei, ainda vou no mesmo, mas o tempo não dá para mais);

Música: Várias de Nouvelle Vague, Hotellounge (dEUS), Inquietação (JPSimões).

Filme: Hum… pois… acho que não vi nenhum. Mas abasteci-me de DVDs para os próximos tempos, já é qq coisa!

Rádio: A Radar, claro.

Novo vício: Uns certos cereais para putos em forma de bolacha com pepitas de chocolate.

Velhos Hábitos: Ainda fumo. Pouco. Mas fumo.

Hábitos reciclados: Do café tomado num café, com o jornal à frente, passei para o café (feito em casa) em frente ao PC. Voltei a comprar o Público à Sexta. Um prazer.

Auto – descoberta: Cada vez tenho menos paciência para quem se queixa, queixa e não faz nada para mudar seja o que for.

Curtas II

  • Tristemente pouco surpreendida por Salazar ter ganho o concurso dos Grandes Portugueses. Ainda a tentar descobrir como me sinto por ter sido eleito um ditador como o maior português de todos os tempos. O tema foi, claro, assunto da Antena Aberta de hoje. Muitos risos quando alguém diz que quem votou em Salazar foram as pessoas de extrema-direita e os habitantes de Santa Comba Dão. Tristeza ao ver alguém da minha idade a defender Salazar. Palmas para quem a seguir lamenta que os seus impostos lhe paguem as propinas. Curiosidade quando se diz que é uma mensagem para os políticos. Se há tanta gente a acusar o actual Governo de autismo por não ouvir opiniões de ninguém, aplaude-se quem, mais do que isso, eliminava opositores? Belo incentivo. (P.S.: Não votei porque acho o concurso a dar para o absurdo, mas tendo que escolher sem dúvida seria o Sousa Mendes).

  • Contente com o regresso do Lost à RTP. Apesar de às vezes a série engonhar que se farta, ainda é do melhorzinho que se vai vendo em canal aberto. Espero que não se repita o desaire sucedido aquando da emissão das séries anteriores: transmissão tanto às 22 como depois da meia-noite, muitas vezes repetida até à exaustão e aos saltos. Um pouco como tem acontecido com o Grey’s Anatomy. Aquilo não é aos Domingos… Vai sendo, quando calha!
  • A propósito de TV e das respectivas grelhas, tenho comprado a Visão. Como a revista tem um suplemento destinado à programação televisiva para toda a semana, lembrei-me de ir ver que filmes iam dar, para organizar a agenda. Conclusão: Sic e Tvi com “Filme: A designar” 3 vezes seguidas!!! Ainda bem que parece que alguém já se lembrou de por fim a isto.
  • Ainda sobre o Lost, uma ironia perversa: é claro que o médico tinha que ser a personagem com um passado obcessivo….

  • Aqui há uns tempos foi ao Um contra todos uma concorrente licenciada na Faculdade que agora frequento, à qual se referiu como “a minha 2ª casa”. Ora eu, que inocentemente tinha pensado tratar-se de um comentário carinhoso, descobri que me enganei. Era um aviso!!!! Depois de, na semana passada, ter saído da Fac às 8 da noite para estar lá de novo às 8 da manhã do dia a seguir, considero seriamente dar a morada do Hsm como a minha 1ª morada e fazer um movimento a favor da instalação de caixas postal ao lado dos cacifos. Kalimera City: Piso 1, anexo A, sala B, entre a Sala AP e a Biblioteca de Anatomia.

25 março 2007

Razões pelas quais não vale a pena fazer planos

Planos vs (não) concretização

  • Ir à Ericeira comprar umas sapatilhas;

Ir e acabar por comprar as que vi em Mafra;

  • Limpar e arrumar a casa toda;

Limpar e arrumar metade da casa e confiar no poder da mente para concretizar o resto.

  • Usar a internet para fazer alguma coisa útil;

Concluir que a net só colabora com inutilidades.

  • Ir tomar café à beira mar com a L e levar os livros atrás;

Está a chover :( . Ficar em casa com os livros à frente.

  • Lavar o carro.

Está a chover :D

  • Encher o depósito de água do carro;

Hesitar entre pedir ao J. ou pôr o boião de fora e esperar que a chuva tenha pontaria;

  • Ir à bola e depois sair;

Ver a bola em casa e não sair do sofá a noite toda.

  • Acordar cedo;

Acordar tarde e descobrir que o relógio adiantou 1h.

  • Não comprar tabaco;

Prestes a acabar com o stock de tabaco de enrolar.

  • Passar o Domingo à tarde a ver o Lost;

Gravar pra ver depois porque já fiz muita coisa mas ainda há muito pra fazer.

  • Escrever para o diário de MedPrev

Escrever e chegar à conclusão que estou demasiado self-centered para escrever sobre algo fora do hemisfério pessoal.

  • Estudar

É que é já a seguir....

23 março 2007

last night a song saved my life


Dancing With Myself

(Billy Idol)

Phoebe :

On the floor of Tokyo
Or down in London town to go, go
With the record selection
With the mirror reflection
I'm dancing with myself

When there's no-one else in sight
In the crowded lonely night
Well I wait so long
For my love vibration
And I'm dancing with myself

Oh dancing with myself
Oh dancing with myself
Well there's nothing to lose
And there's nothing to prove
I'll be dancing with myself

If I looked all over the world
And there's every type of girl
But your empty eyes
Seem to pass me by
Leave me dancing with myself

So let's sink another drink
'Cause it'll give me time to think
If I had the chance
I'd ask the world to dance
And I'll be dancing with myself

Oh dancing with myself
Oh dancing with myself
Well there's nothing to lose
And there's nothing to prove
I'll be dancing with myself

Oh dancing with myself
Oh dancing with myself
Well there's nothing to lose
And there's nothing to prove
I'll be dancing with myself

If I looked all over the world
And there's every type of girl
But your empty eyes
Seem to pass me by
Leave me dancing with myself

So let's sink another drink
'Cause it'll give me time to think
If I had the chance
I'd ask the world to dance
And I'll be dancing with myself
I'll be dancing with myself

So let's sink another drink
'Cause it'll give me time to think

Oh dancing with myself
Oh dancing with myself
Well there's nothing to lose
And there's nothing to prove
I'll be dancing with myself

Oh dancing with myself
Oh dancing with myself
Well there's nothing to lose
And there's nothing to prove
I'll be dancing with myself

As played by nouvelle vague

22 março 2007

brains


Artigo do neurocientista António Damásio na "Nature"
Lesões no cérebro geram escolhas morais anormais

22.03.2007 - 09h50 Ana Gerschenfeld



Você sabe que uma dada pessoa tem sida e que tenciona deliberadamente infectar outras. Algumas dessas pessoas irão com certeza morrer. As duas únicas opções que você tem são deixar que isso aconteça ou matar a pessoa. Você carrega no gatilho? A mera hipótese de virmos a ser confrontados com uma escolha destas, mesmo que retoricamente, provoca-nos arrepios, tal é a nossa aversão natural à ideia de tirar a vida a outro ser humano. No entanto, há pessoas que respondem pela afirmativa quando este cenário imaginário lhes é colocado. E essas pessoas, que basicamente não hesitariam em obliterar uma vida humana "em nome do bem colectivo", apresentam lesões numa região do seu cérebro necessária à produção de emoções.

António Damásio, da Universidade da Califórnia do Sul (USC), Marc Hauser, especialista do comportamento animal da Universidade de Harvard, e os seus colegas quiseram saber o seguinte: perante um dilema moral deste género, será que os sentimentos que nos acossam são somente uma consequência do horror da situação evocada? Ou será, pelo contrário, graças ao nosso cérebro "emocional" que somos capazes de fazer a escolha moral mais humana - a menos utilitária e fria -, recusando-nos a entrar na pele de um homicida justiceiro?

Para Damásio, autor do célebre livro O Erro de Descartes, a razão humana precisa das emoções para funcionar: não há escolha racional acertada na vida real sem a participação das emoções, da intuição, das nossas vísceras. Quanto a Hauser, autor de um recente livro intitulado Moral Minds: How Nature Designed Our Universal Sense of Right and Wrong, tem estudado nos animais os comportamentos precursores dos comportamentos morais humanos.

Estes cientistas concluem hoje, num artigo publicado na revista "Nature", que as emoções desempenham efectivamente um papel essencial no nosso desempenho moral. Sem elas, o nosso juízo moral não funciona. "O nosso trabalho fornece a primeira demonstração causal do papel das emoções nos juízos morais", diz Hauser, citado por um comunicado conjunto da USC, da Harvard e do Caltech.

Os investigadores apresentaram uma série de 13 dilemas morais deste tipo a 30 pessoas de ambos os sexos. Desses voluntários, seis tinham lesões no córtex prefrontal ventromedial (VMPC), 12 tinham outras lesões cerebrais e 12 não tinham lesões. O VMPC, situado ao nível da testa, faz parte dos circuitos "emocionais" do cérebro.

Embora o dilema referido mais acima não fizesse parte do conjunto sob essa forma, algumas das escolhas propostas eram talvez mais arrepiantes ainda. Por exemplo: "Soldados inimigos invadiram a sua aldeia. Você e outros refugiam-se num sótão [...] O seu bebé começa a chorar. [...] Você tapa-lhe a boca. [...] Para salvar a sua própria vida e a dos outros você precisa de matar o seu filho por asfixia. Você asfixiaria o seu bebé para salvar a sua própria vida e a dos outros?"

Também foi pedido aos participantes para responderem a outros tipos de dilemas - uma série de dilemas morais menos pessoais e uma série de dilemas sem componente moral. Mas foi apenas perante os dilemas morais em que a morte imediata de alguém serve para evitar a morte futura de muitos que as diferenças entre as pessoas com lesões no VMPC e as outras se tornaram gritantes, com uma proporção significativamente mais elevada de respostas afirmativas, neste grupo, à resolução dos dilemas pelas armas, por assim dizer.

"O que é absolutamente espantoso", acrescenta Hauser, "é a selectividade deste défice. As lesões do lóbulo frontal deixam intactas toda uma série de capacidades na resolução de problemas morais, mas afectam os juízos nos quais uma acção que provoca aversão é colocada em conflito directo com um desfecho fortemente utilitário". Por seu lado, Ralph Adolphs, do Caltech, explica: "Devido às suas lesões cerebrais, [as pessoas com lesões no VMPC] apresentam emoções anormais na vida real. Falta-lhes empatia e compaixão."

(www.publico.pt)

18 março 2007


www.ahajokes.com/crt868.html

"We confuse responsibility with stress. Responsibility becomes stressful only when you don't feel strong enough to handle it."
Allen Carr

14 março 2007

Ch-ch-ch-changes!!! (Medicina e Mudança)


I

(Para Cão, a dizer “Bom Dia!” algures em Praga)

Confesso, nunca fui particularmente avessa a mudanças. Delas sempre tive demasiadas expectativas para me assustarem, mesmo quando não sabia muito bem o que esperar. Houve, claro, uma altura em que pensei “Ah, mudar e tal, é mais confortável ficar onde estou” (na transição IST – FML) mas, felizmente, tive então a presença de espírito necessária que me impediu de deixar de dar um passo em frente, pelo medo do que encontraria a seguir. O fascínio pelo desconhecido, a nostalgia do que está para vir, o andar em frente que atrás vem gente, com mais ou menos esforço, tem-me guiado os passos neste circuito de vida.

E todas estas mudanças são também um inter rail no que ao auto conhecimento diz respeito. Lembro-me que às tantas me foi dado um conselho que caiu como uma sentença: “Não queiras ser mais do que aquilo que és”. Foi tão grande a revolta! Que era preciso evoluir, que todos temos que ter uma certa ambição, estar parado é estar morto, etc. Confesso que na altura não estava particularmente agradada com a paisagem interior, contribuição imensurável para que o conselho – hoje entendo-o como tal – se tornasse em sentença.

Agora que a Medicina me livra um pouco mais o tempo, fui à prateleira onde repousam as últimas aquisições na Fnac. Abro, folheio, cheiro o novo e a novidade, e por fim começo. “As pequenas memórias”, Saramago. Às tantas fala-se de como a percepção de uma paisagem varia consoante o estado de espírito do observador. O mesmo é válido, julgo, para as palavras. Quando foram ditas há tanto tempo que vagueiam nas profundidades do iceberg da (in)consciência, naquela parte que nem o CO dos Estados Unidos consegue derreter, saltam-nos de rompante para a superfície no exacto momento em que as percebemos. Afinal era isto. “Não queiras ser mais do que aquilo que és”. Faz o melhor que puderes com quem és. Tira proveito de ti próprio.

Reescrevi a frase no dia em que entrei para Medicina.

A vida tem destas coisas. Trilhos longos e insidiosos para nos fazer chegar ao lugar certo. Procuramos sempre uma razão para tudo e chegamos à brilhante conclusão que ela está dentro de nós. Somos ostras de nós mesmos. E às vezes só quando alguém nos faz abrir a concha é que percebemos o que vai lá por dentro. Conversas ao longo de noites, cafés, viagens. A resposta inesperada e vinda de terras longínquas, quando estamos tão cheios da nossa esfera privada que nos esquecemos que há vida para além disto que nos rodeia.

Still dont know what I was waiting for
And my time was running wild
A million dead-end streets and
Every time I thought Id got it made
It seemed the taste was not so sweet
So I turned myself to face me
But Ive never caught a glimpse
Of how the others must see the faker
Im much too fast to take that test

Ch-ch-ch-ch-changes
(turn and face the strain)
Ch-ch-changes
Dont want to be a richer man
Ch-ch-ch-ch-changes
(turn and face the strain)
Ch-ch-changes
Just gonna have to be a different man
Time may change me
But I cant trace time

I watch the ripples change their size
But never leave the stream
Of warm impermanence
So the days float through my eyes
But stil the days seem the same
And these children that you spit on
As they try to change their worlds
Are immune to your consultations
Theyre quite aware of what theyre going through

Ch-ch-ch-ch-changes
(turn and face the strain)
Ch-ch-changes
Dont tell them to grow up and out of it
Ch-ch-ch-ch-changes
(turn and face the strain)
Ch-ch-changes
Wheres your shame
Youve left us up to our necks in it
Time may change me
But you cant trace time

Strange fascination, fascinating me
Ah changes are taking the pace Im going through

(D. Bowie, Changes)


II

(Para Miss Barriguita e Prof. Karamba)

Uma coisa curiosa é que depois de entrar em Medicina comecei a ter medo de mudar. E percebi também como os outros esperam realmente essa mudança, como a procuram na camisola de cor mais viva, no desabafo da Anatomia, no aperto da lida da casa que não se compadece com plexos e anastomoses.

Procuramos um rumo, tentamos concretizar-nos individualmente, deixamos tudo para trás. Os amigos, as “tocas” e países de origem, o ordenado que nunca mais chega ao fim do mês, a independência, talvez até a maternidade. Em compensação, esperamos tornar-nos homens e mulheres do mundo, chegamos a casa com o sentimento de dever cumprido. Deixamos de procurar naqueles que nos são mais próximos a realização pessoal que não nos podiam dar. E, ainda assim, o medo de mudar. Lançamos apelos. “Por favor avisem-me se eu me tornar uma dessas cabras/porcos capitalistas que nem olha para a cara do doente”.



O que nos vai impedir?... A partilha, a “psicoterapia” em grupo no café do lado, o estarmos juntos no mesmo barco. Os blogues, praças gregas de Filosofia da era moderna.

"Thursday's Child"

All of my life I've tried so hard
Doing my best with what I had
Nothing much happened all the same

Something about me stood apart
A whisper of hope that seemed to fail
Maybe I'm born right out of my time
Breaking my life in two

[CHORUS]
Throw me tomorrow
Now that I've really got a chance
Throw me tomorrow
Everything's falling into place
Throw me tomorrow
Seeing my past to let it go
Throw me tomorrow
Only for you I don't regret
That I was Thursday's child

(D. Bowie)

12 março 2007

Life, interrupted (?)

http://www.mcescher.com/

Escolhi este quadro fantástico de MCEscher para ilustrar este post, porque se trata basicamente de uma reflexão sobre a vida e de como considero que ela é como uma mão que se desenha a si própria. Ou, com menos lirismo e mais sabedoria "A sorte, somos nós que a fazemos", entre aspas porque, não deixando de ser quase um lugar comum, para mim esta é a "citação do meu avô". Confesso que só a percebi quando já era tarde demais para lhe dar razão - coisas da idade.

E é precisamente de coisas da idade que se trata. Ao longo de quase toda a nossa vida, sentimo-nos confortavelmente balizados pelas circunstâncias semelhantes daqueles que nos rodeiam. Os que estão ao nosso lado são aqueles que, como nós, estudam no mesmo liceu / faculdade, trabalham na mesma profissão / espaço, etc... Não tendo grande consciência do facto, é isso que nos permite ter um sentimento de pertença e, acima de tudo, é o que nos permite partilhar.

Há no entanto opções de vida que, ao afastar-nos da trajectória comum, nos fazem saltar do eixo da normalidade. E é nesta fase que estes pensamentos nos assaltam. E assombram. Dos amigos que "seguiram em frente" ouvimos as queixas do cansaço do trabalho, o elogio à boa vida de estudante, as compras que fazem com a folga que só um ordenado permite, as viagens que planeiam, as férias que fizeram, as borgas que a liberdade daqueles que não estão já agrilhoados aos livros podem fazer. E sentimo-nos parados ou, pior ainda, a voltar para trás.

"Já sabias que ia ser assim." "Deixa lá, mais tarde tens uma vida melhor que nós" "Tens que saber esperar". São estas as frases de consolo no retorno do queixume. Numa sociedade onde o aqui e o agora são tudo o que interessa, onde o saudoso carpe diem se tornou num modo de vida longe da filosofia original, onde o pagar a pronto é costume arcaico e se opta pelo crédito, as apostas a longo prazo tornam-se uma opção de loucos corajosos. Verdade e Consequência.


verdade
substantivo feminino
1.
conformidade entre o pensamento ou a sua expressão e o objecto de pensamento;


consequência
substantivo feminino
1.
resultado natural, provável ou forçoso de um facto; efeito;

Para eles, são as consequências. Para nós, a verdade. E há, claro, sacrifício.

sacrifício
substantivo masculino
1.
acto ou efeito de sacrificar; imolação;

3.
abandono voluntário de algo precioso; renúncia;
4.
aquilo que é sacrificado;
5.
privações a que alguém se sujeita em benefício de outrem;
6.
sofrimento; custo; esforço;

(http://www.portoeditora.pt/dol/)


Preço a pagar, em suma. Alto? Tem dias. Tudo depende do prazer que se tira daquilo se faz. Tenho a sorte de, no meu caso, ser muito. Mas há dias em que a química neuronal nos prega partidas e em que o sacrifício, bom grado poder fazê-lo, é um fardo mais pesado.

Prós e contras. Verdade e consequência. Hotellounge e Hey jude. Porque para cada momento, bom ou mau, há uma banda sonora.

Hotellounge (Be The Death Of Me)


>"this elevator only takes one down", she said
"this place, this hotel lounge, it's my daily bread, but I'm underfed"
He asked, "are you living in the night?
Cause I can tell you have a lousy imagination
And as a matter of speaking I hate this situation
But it happens to be one of my pickin'"

Cause it's so hard, to keep the dream alive
Cause if it all comes down to this, how will

You move me, you move me, you move me round and round, I guess
Take it back your analogue, it's on the other side of this
You move me, you move me, you move me round and round, I guess
Take it back your analogue, it's on the other side of this

Cause if it all comes down to this, how will

And then she said, "and have another cigarette"
I tend to forget
And hoisted the flag but it keeps hanging down

"you know this place, this hotel lounge
It's my life, it's my choice
And I'm in love with ricky lee jones' voice"

Cause it's so hard to keep the dream alive
And if it all comes down to this, how will

You move me, you move me, you move me round and round, I guess
Take it back your analogue, it's on the other side of this
You move me, you move me, you move me round and round, I guess
Take it back your analogue, it's on the other side of this
You move me, you move me, you move me round and round, I guess
Take it back your analogue, it's on the other side of this
You move me, you move me, you move me round and round, I guess
Take it back your analogue, it's on the other side of this
You move me, you move me, you move me round and round, I guess
Take it back your analogue, it's on the other side of this
And if it all comes down to this

"this elevator only takes one down", she said, "this place in this same hotel"

Do you see that man in the left-hand corner
Do you see that woman their love-story's famous

Hey Jude

(Lennon-McCartney)





Hey, Jude, don't make it bad
Take a sad song and make it better
Remember to let her into your heart
Then you can start to make it better

Hey, Jude, don't be afraid
You were made to go out and get her
The minute you let her under your skin
Then you begin to make it better.

And any time you feel the pain, hey, Jude, refrain
Don't carry the world upon your shoulders
Well don't you know that its a fool who plays it cool
By making his world a little colder

Hey, Jude! Don't let her down
You have found her, now go and get her
Remember, to let her into your heart
Then you can start to make it better.

So let it out and let it in, hey, Jude, begin
You're waiting for someone to perform with
And don't you know that it's just you, hey, Jude,
You'll do, the movement you need is on your shoulder

Hey, Jude, don't make it bad
Take a sad song and make it better
Remember to let her into your heart
Then you can start to make it better




--------------------------------------------------------------------------------

10 março 2007

Democratização


Os blogues têm destas coisas... Anda-se para aqui a escrever incógnito e, mal falamos de política, aparecem novos amigos. Confesso que acho piada, pelo menos enquanto não vierem senhores que dizem mal do gato fedorento chatear-me a moleirinha... Andamos por aqui na descoberta e, de repente, somos nós os descobertos. E foi assim que cheguei a este cartoon fantástico. Resume tão bem a minha opinião que nem vale a pena discorrer sobre o tema :)

09 março 2007

Curtas


(www.sergeicartoons.com)

Paulo Portas abandonou o PP devido aos maus resultados nas eleições. Depois de deixar o partido nas mãos de Ribeiro e Castro, qual Titanic à beira de afundar, presta-se agora a um regresso heróico com o mui nobel objectivo de poder fazer birra à vontade. É certo que o Governo está, como dizem os analistas, folgado, em virtude da fraca oposição que enfrenta. Mas será fraca de pessoas ou de estratégias? Cada debate mensal no Parlamento é maioritariamente passado a criticar o que já foi feito. Avançar com sugestões produtivas e concretizáveis, para discutir o que está na mesa, parece exigir dos deputados uma inatingível tarefa para mentes treinadas a tornar críticas originais e assertivas.

“Sócrates recusa nuclear e avança com energias renováveis” Ora aí está! Finalmente alguém se lembrou de aproveitar os recursos do País para gerar dinheiro (sob a forma de energia, neste caso), em vez de os vender aos Espanhóis para ir comprar mais caro ao vizinho.

É com palavras duras, cruéis e quase violentas que Vasco Pulido Valente inicia hoje a sua crónica no Público. Se é certo que a RTP tem caído por vezes no erro de perseguir a concorrência nos piores pontos, a verdade é que é ainda a única alternativa em canal aberto ao interminável discorrer de novelas, folhetins e reality shows com que a SIC e a TVI nos presenteiam diariamente. E se é certo que foi claro o afago ao ego ferido na gala de comemoração dos 50 anos, nós por cá sempre preferimos rever o Vitinho e recordar o Dartacão do que a palhaçada de alvos fáceis da TVI, no respectivo aniversário.

Por fim, e para que não se diga que as mulheres não querem saber de futebol, gostei de ver o Braga a “morrer” de pé!

Uma boa ideia

Pronto, estou definitivamente mais soltinha, por isso há que pôr a escrita em dia. Começo por uma boa notícia que me chegou no meio do furacão Anatomia. Que fazer a um telemóvel usado, daqueles que já não ligam, a bateria n funciona, etc? Dar à AMI. É só ir aos CTT e deixar lá!

Divulguem sff

http://www.fundacao-ami.org/ami/artigo.asp?cod_artigo=167324

08 março 2007






Esperamos que o povo veja respeitado o seu direito a expressar-se livremente, sem medo da repressão, a exprimir-se nas urnas e a alcançar o seu pleno potencial através da abertura de mercados", disse (G. W. Bush)

(http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=1287610&idCanal=11)

"A minha mensagem para os trabalhadores e camponeses é que podem contar com um amigo na América, que se preocupa com a sua situação difícil", explicou George W. Bush, numa intervenção perante a Câmara Hispana de Comércio, na véspera da partida para o Brasil.

http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=1287674&idCanal=11







05 março 2007

incompatibilidades

Finalmente o submarino da Anatomia voltou a terra firme!!! Foram dias passados a contar artérias e a recitar colaterais, numa espécie de coma anatómico auto-induzido. Sábado não foi Sábado, foi dia do tronco e à noite do membro superior, Domingo dia de atrofios, revisões, aprendizagens forçadas… Hoje é dia de anestesia pós teste. E, como sempre, previsões só na pauta.

Mas o dia não foi só a ansiedade matinal, a nébula, o teste e o entorpecimento. Houve ainda que fazer o trabalho de Introdução à Medicina, pensar no tema para o de Preventiva e ainda me falta organizar as papeladas com nomes de artérias espalhadas um pouco por toda a sala e limpar a casa, porque amanhã é novamente dia de labuta – tenho uma apresentação na quinta-feira.

O que me leva ao tema principal deste post. Não sei se é geral ou exclusivo desta faculdade, mas pelo menos por aqui fala-se muito da importância de um médico ser completo a todos os níveis. Em concreto, fala-se da importância de ter uma grande cultura geral. Ora eu concordo com isso. Não por elitismo ou afirmação da classe, mas porque acho que só sabendo e conhecendo muito podemos compreender a realidade humana, enfrentá-la; ver o homem como um todo e não como um potencial candidato à cirurgia ou tratamento x ou y. É preciso compreender as pessoas, o que está por detrás daquele fígado doente que a levou à consulta, saber as motivações, desesperos, medo. Em suma, no meu ponto de vista, o médico deve ser um grande ser humano, mas também um grande humanista.

O problema é que para isso é preciso tempo. Que não nos é dado. Falo por mim. Os filmes são vistos à socapa, as notícias chegam na versão resumida, jornais e revistas são lidos no trono (aka sanita), o livro que estava a ler, bem, com tanta Anatomia já perdi o fio à meada… Aprende-se também muito na interacção social, na vida do dia a dia, nas conversas, a ouvir as opiniões dos outros. Mas até aqui o polvo que é a Medicina lança o seu tentáculo. As conversas com os colegas, salvo raras e honrosas excepções, giram inevitavelmente em torno das cadeiras, materiais disponíveis, queixas mais ou menos gerais. Cada pessoa é “do meu grupo desta ou daquela cadeira” e não “aquela gaja que gosta muito desta ou daquela música, que leu tudo daquele autor, que me falou das tradições dos índios” ou o que quer que seja.

Hoje tive teste de Anatomia, escassas semanas depois da época de exames. Faltam cerca de 3 meses para a próxima época, durante os quais, além de estudar para os exames, há que preparar poster para tudo quanto é cadeira, fazer apresentações quase semanais, escrever diários. E, honestamente, a maior parte de tudo isto é para “encher”. São coisas que não ficam porque não saem nos exames, que a este nível não são particularmente estimulantes por serem tão generalistas, que não contribuem para a nossa cultura médica nem humana e cuja valorização pessoal se limita à nota que delas advier (se é que as vamos saber, já que acabam por não contar quase nada para o todo da cadeira).

Se não fosse tudo isto, o que é que eu faria? Aproveitaria para estar com amigos, pôr as leituras em dia, chatear o meu médico para passar mais umas tardes no centro de saúde, ia para um ginásio, fazia voluntariado, tirava um curso avançado de suporte de vida e tentava melhorar o meu Inglês e o meu Francês. Assim sendo, há que poupar nas viagens porque os livros são caros, não tenho hora para ir ao ginásio, tempo para formações complementares é mentira, os poucos programas bons que dão na televisão em canal aberto são gravados e vistos fora de horas e só não ando alheia da realidade nacional e mundial porque programo o jantar para a hora das notícias e o rádio do carro para a Antena 1.

E assim se formam médicos que acabam o curso com a mesma mentalidade que tinham aos 18 anos, a mesma experiência de vida, a mesma indefinição de personalidades e ideias.

(Ok, esta última parte é um exagero, mas dá para perceber a ideia, certo?)