15 dezembro 2007

A camisola verde

Nós já sabíamos que passar tanto tempo juntos traria a suas consequências: irritações, mal-entendidos, respostas tortas, coisas como "Eh pá, não me chateiem, deixem-me fumar!!!!". Até aqui tudo bem. Mas isto???


Tudo começou com a S. a olhar para o lado numa aula de BQ, provavelmente no seu desespero de "eu não vou conseguir decorar estes nomes" e reparar na camisola verde do L. Olha para o outro lado, onde eu estou sentada a bocejar e o comentário é travado ao perceber que eu também estou de verde. E diz-me "Olha lá que estamos todos de verde hoje!" Coincidências, pensamos.


Inocentes! Já cá fora, vemos a L chegar, com uma camisola verde turquesa (e não verde alface, porque ela é do contra) por baixo do casaco. Começamos a fazer piadas, demasiado tempo juntos, etc.



O pior foi quando a C chegou. Começamos a vê-la ao longe. "Tu não brinques, queres ver que ela também está de verde?". Iniciamos então uma complicada sinalética digna de controlador de tráfego aéreo, perante a perplexidade da C, que por essa altura olhava para baixo, tentando perceber se teria à mostra alguma coisa que deveria estar escondida.


Mas há sempre uma verdade escondida... E a razão para tanto verde era talvez a esperança inconsciente de não ficarmos nesse dia a saber que tinhamos tido uma nega redondinha.


P.S.: Deviamos repetir a dose e deste vez tirar foto ;)
P.S.2: Acabo de ser informada pela única pessoa normal da nossa lista Z que "sabes q mais
eu é q vos influencio pq eu sabia desde o inicio da semana q teria de vestir aquela camisola na quarta :-P" Tenham medo!
P.S.3: O CD dos neurónios queimados é verde!!!!

A arte da auto-sabotagem

Diz-se que ficar mais velho é ser mais experiente, aceitar melhor o que a vida nos traz, ser mais sábio... Tretas! A maturidade adquire-se com o aperfeiçoar da arte da auto-sabotagem.
Passo a explicar: depois de uma adolescência conturbada durante a qual tentamos refrear os nossos defeitos e feitio à força - a melhor imagem que me ocorre é a de alguém sentado em cima de uma mala, tentando desesperadamente que a mesma feche - lá acabamos por aceitar que não vale a pena e passamos à fase seguinte - ignorar. Até que, após uma série de maus resultados, já que os nossos próprios defeitos fazem questão de se porem perante nós em inúmeras situações, arregaçamos as mangas e decidimos por fim lidar com os ditos.
E assim encetamos a auto-sabotagem. Começa de uma forma desinteressada e em pequenas coisas inocentes - pôr o despertador dez minutos antes da hora porque sabemos nunca acordar com o primeiro toque, não levar o cartão de crédito ao ir à fnac para não ter hipóteses de ceder ao impulso consumista, etc... Mas neste ponto, o nosso inconsciente é matreiro - ele sabe que o despertador está programado para mais cedo e que temos uma nota na carteira, por exemplo. E é então que começa a verdadeira tourada: nós versus os nossos defeitos.
Marcamos compromissos cedo para sermos obrigados a tirar o sim senhor da cama a horas, fazemos apresentações para nos obrigarmos a estudar, organizamos tudo o que temos para fazer antecipadamente, não por uma questão de método, mas para criar pressão, vamos para a biblioteca, fechamos o computador num armário, enfim, tudo o que for válido. Em suma, antecipamos a nossa preguiça, má vontade e outros que tais.
Mas a auto-sabotagem tem também coisas boas. Eu sabia que ia ter que estudar, que ia estar atrapalhada, que não me ia apetecer ir sozinha, sair de casa, conduzir. Sabia que ia chegar ao ponto de desespero de o tentar impingir a outra pessoa. Mas mesmo assim comprei-o antecipadamente. Para me obrigar a ir. E foi por isso, por já ter o bilhete, que não perdi o fabuloso concerto da Patti Smith.
Ah!!! Se eu não me conhecesse!

Livros

Há livros que facilmente nos passariam despercebidos, não fosse um amigo pô-los à nossa frente. Foi o que aconteceu com este Almas Cinzentas, que me iria passar ao lado não fosse o empréstimo do mesmo pela C - já agora, será que emprestar livros é punido por lei? :D







Porque é q ia passar despercebido? Não sei. Mas agora que penso nisso, até em relação aos livros conseguimos ser preconceituosos. Lembro-me que A Sombra do Vento me veio parar às mãos por intermédio de alguém que lê tudo - e quando digo tudo, é tudo mesmo - mesmo aqueles livros com um aspecto insuportavelmente entediante, pelo que o meu primeiro pensamento foi qualquer coisa como "deves ser pouco chato, deves". E, como já tive oportunidade de referir num dos 99 posts que estão para trás (sim, porque este é o número 100!!!, olha que dose!), foi um dos melhores livros que li até hoje. Mas nem um nem outro livro têm "mau aspecto", antes pelo contrário e ficam como sugestão.



É claro que a coisa pode funcionar ao contrário e um livro com uma capa muito feliz nos fazer pensar logo que se trata de uma coisa levezinha, assim tipo leitura de casa de banho. Era pelo menos essa a ideia que eu tinha do livro Marley & me. Ora acontece que me foi emprestada a versão portuguesa e, apesar de a tradução ser um bocado fraquinha, lê-lo soube-me bem. Não é, claro, um livro que nos enche de reflexões, como o Almas Cinzentas, mas faz-nos rir a espaços e aborda questões às quais alguém com mais de vinte e tal anos não fica insensível - primeiro filho, capacidade reprodutora e, sobretudo, dúvidas quanto às apetências para cuidar dos rebentos.






Este livro do Marley - que, como já devem ter percebido, se é q n sabiam já - centra-se na vida de um cão e tem o mérito de ter aberto uma nova modalidade de leitura para mim. Eu leio por prazer e não sou metódica ao ponto de ler até ao fim um livro do qual não esteja a gostar. Passo ao próximo e pronto. Também já aconteceu perder o fio à meada - sendo estudante, não é difícil, uma pessoa distrai-se e lá estão os neurónios todos a tentar efusivamente decorar matéria, largando assim as memórias do lazer - chegando por isso ao ponto pouco aprazível de me lembrar qb pra não me apetecer reler mas não o suficiente para ler em frente. Ora o que nunca me tinha acontecido era estar a gostar e não ler mais - não por ter perdido o livro ou por este ter entrado em combustão expontânea - mas por opção deliberada. É que, estão a ver, eu sou muito piegas nestas coisas de animais e a vida deste Marley não foi eterna, certo?


Pelo que, após fechar pesarosamente o livro, lancei os olhos à estante em busca do seu seguidor. E deparei-me com este "Retalhos da vida de um médico", que fiquei de emprestar. E, enfim, alguém vai ter que esperar um tempinho porque o estou a ler.


Comecei a lê-lo na adolescência e, já não me lembro porquê, parei a meio. Não que achasse a escrita chata, lembro-me de na altura ter lido o Domingo à tarde do Fernando Namora e ter gostado... Enfim, mistérios insondáveis que fazem com que eu esteja a ler o livro naquela que me parece ser a altura certa.




Já agora, tenho uma edição antiga surripada descaradamente à minha mãe, com páginas amarelas e cheiro duvidoso, o que só torna o livro mais apetível. Preconceituosamente falando, é claro.