15 dezembro 2007

A arte da auto-sabotagem

Diz-se que ficar mais velho é ser mais experiente, aceitar melhor o que a vida nos traz, ser mais sábio... Tretas! A maturidade adquire-se com o aperfeiçoar da arte da auto-sabotagem.
Passo a explicar: depois de uma adolescência conturbada durante a qual tentamos refrear os nossos defeitos e feitio à força - a melhor imagem que me ocorre é a de alguém sentado em cima de uma mala, tentando desesperadamente que a mesma feche - lá acabamos por aceitar que não vale a pena e passamos à fase seguinte - ignorar. Até que, após uma série de maus resultados, já que os nossos próprios defeitos fazem questão de se porem perante nós em inúmeras situações, arregaçamos as mangas e decidimos por fim lidar com os ditos.
E assim encetamos a auto-sabotagem. Começa de uma forma desinteressada e em pequenas coisas inocentes - pôr o despertador dez minutos antes da hora porque sabemos nunca acordar com o primeiro toque, não levar o cartão de crédito ao ir à fnac para não ter hipóteses de ceder ao impulso consumista, etc... Mas neste ponto, o nosso inconsciente é matreiro - ele sabe que o despertador está programado para mais cedo e que temos uma nota na carteira, por exemplo. E é então que começa a verdadeira tourada: nós versus os nossos defeitos.
Marcamos compromissos cedo para sermos obrigados a tirar o sim senhor da cama a horas, fazemos apresentações para nos obrigarmos a estudar, organizamos tudo o que temos para fazer antecipadamente, não por uma questão de método, mas para criar pressão, vamos para a biblioteca, fechamos o computador num armário, enfim, tudo o que for válido. Em suma, antecipamos a nossa preguiça, má vontade e outros que tais.
Mas a auto-sabotagem tem também coisas boas. Eu sabia que ia ter que estudar, que ia estar atrapalhada, que não me ia apetecer ir sozinha, sair de casa, conduzir. Sabia que ia chegar ao ponto de desespero de o tentar impingir a outra pessoa. Mas mesmo assim comprei-o antecipadamente. Para me obrigar a ir. E foi por isso, por já ter o bilhete, que não perdi o fabuloso concerto da Patti Smith.
Ah!!! Se eu não me conhecesse!

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