27 fevereiro 2007

Prevenção e H5N1

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A aula de Medicina Preventiva de ontem abordou o tema “Ambiente Biológico e Saúde”. Gostei especialmente, por interesse científico e por estar na ordem do dia, de perceber os mecanismos de transmissão do vírus da gripe aviária, bem como das barreiras biológicas que são necessárias ultrapassar até ao target final: o homem.

Para os mais interessados, e porque acho que é um tema de interesse geral, aqui vai um briefing. Pode dizer-se que existem, de uma forma simplista, 2 pools de vírus da gripe: humana e não humana. A gripe aviária é isso mesmo – aviária, de forma que começamos por clarificar os termos: nunca nenhum de nós vai ter gripe aviária.

No homem existem 3 tipos de manifestações de gripe: a sazonal (daí andarmos todos com maços de lenços atrás no Inverno), a gripe de transmissão zoonótica (isto é, aquela que se transmite de outras espécies, aves incluídas, para o homem) e, por fim, a gripe pandémica.

Neste momento, o famosíssimo H5N1 encontra-se na fase de transmissão zoonótica. Ou seja, como os vírus têm uma enorme capacidade de mutação (alteração genética, para leigos), adquiriu a capacidade de se transmitir de outros animais (aves) para o homem (nós). E, eventualmente, poderá – ou não – adquirir a capacidade de se transmitir de pessoa para pessoa.

E agora, porque é, tratando-se de uma gripe, um virose aparentemente tão vulgar, nos causa tantas preocupações? O problema é que o nosso sistema imunitário não gosta muito de novidades. Digamos que o nosso sistema imunitário é como o George Bush – gosta muito de atacar quando sabe que vai ganhar, quando já conhece o “inimigo”. No entanto, quando o agente infeccioso (o inimigo, portanto) é novo, o nosso organismo não sabe muito bem como lidar com ele, de maneira que vai de atacá-lo por todas as frentes, de todas as formas e feitios (assim como o ataque ao Iraque, com as suas supostas armas de destruição maciça, e o caos e carnificina daí resultantes). Daí a gripe se tornar letal, especialmente para pessoas mais jovens – aqueles com um sistema imunitário mais activo.

E como é de Medicina Preventiva que se trata, aqui fica o aviso (para prevenir!): o vírus “sobrevive” durante cerca de 40 dias nos excrementos, penas e outros vestígios que a passarada deixa por aí, por isso muito cuidadinho!

Nem de propósito, no Prós e Contras de hoje, e devido à tão conflituosa reestruturação da rede nacional de urgências, o Ministro da Saúde Correia de Campos fala precisamente das medidas tomadas face ao pico de gripe (sazonal, estirpe H3N2), aquele mesmo que eu tinha visto no gráfico de manhã.

E é muito bom sentir que assim, nestes pequenos nadas e aos poucos, a Medicina e o Ser Médico se vai tornando parte do meu dia a dia.

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