14 abril 2007

O exemplo de Vasco Pulido Valente

Na sua coluna de opinião no Público, com o título "O exemplo de Sócrates", escreve Vasco Pulido Valente o seguinte:
"(...) Ninguém que pretebde genuinamente aprender anda a saltar de escola em escola, ou escolhe uma Universidade "porque é mais perto", ou pede equivalências sob palavra, ou aceita o mesmo professor no mesmo ano para quatro cadeiras, ou se importa em especial com títulos. Sócrates simboliza tudo o que está de errado no ensino que por aí existe. (...)"
Ora estas são palavras que, a meu ver, reflectem um total desconhecimento do panorama actual português no que ao Ensino Superior diz respeito. A saber: quem quer genuinamente aprender, salta de escola em escola, mais ainda do que quem não quer. É muito frequente os alunos mudarem de Faculdade, nem que seja no ano de estágio, por saberem que o instituto de acolhimento lhe vai proporcionar trabalho e experiência numa área que na Faculdade de origem não está desenvolvida, ou nem sequer existe. Quanto à escolha da Universidade que está "mais à mão", lamento mas o critério de escolha e prioridades no momento da candidatura, é mesmo esse: a distância de casa. Com grande pena minha, que sou apologista de que a formação universitária deve ir muito para além dos livros, a verdade é que grande parte dos alunos a estudar nas Universidades de Lisboa, são da capital ou arredores, muitos dos alunos do Porto são do Norte, etc. Atenção: não tenho dados oficiais a fundamentar, mas a fonte é segura - experiência in situ. Acrescente-se, ainda, que há casos conhecidos de alunos que entraram em cursos "topo de gama" e, perante a increduliadade de muitos, desistiram porque... Estavam demasiado longe de casa.
A "equivalência sob palavra", essa então, até faz cócegas. Parece-me que VPL, à semelhança de grande parte dos jornalistas portugueses, nunca passou pela experiência alucinante de pedir equivalências. São necessários programas, históricos, selos brancos, dinheiro a rodos, telefonemas com voz de pedinte e, caso as Universidades estejam situadas em diferentes cidades, carro ou uma boa dose de paciência para transportes públicos. É que o Simplex ainda não foi à escola e, quando a prioridade é Bolonha, cabe ao aluno o engenho, arte e mestria de procurar a maneira mais económica e, simultaneamentem eficaz, de obter a dita equivalência. Felizmente a maioria dos professores universitários está por dentro destas realidades e acredita na palavra do aluno, que serve como dispensa às aulas até a papelada estar toda em ordem e, aí sim, o processo de equivalência andar em frente. Se o aluno mente? Simples, a cadeira fica para o ano seguinte. Não penso que haja registo de façanhas do género.
Por fim, ainda que com Bolonha se pretenda um sistema "student centered", não chegamos ainda ao ponto de poder escolher os professores atribuídos...

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